Diferentemente da maioria dos tumores malignos masculinos, o câncer de testículo afeta sobretudo os homens com idade entre 15 e 40 anos, predominantemente entre 20 e 34 anos. Portanto, é esse grupo que precisa ficar atento à doença, ainda que ela também ocorra, em menor proporção, em crianças e idosos. Em comparação com o câncer […]
Diferentemente da maioria dos tumores malignos masculinos, o câncer de testículo afeta sobretudo os homens com idade entre 15 e 40 anos, predominantemente entre 20 e 34 anos. Portanto, é esse grupo que precisa ficar atento à doença, ainda que ela também ocorra, em menor proporção, em crianças e idosos.
Em comparação com o câncer de próstata, alvo de muitas campanhas − a ponto de 95% dos brasileiros reconhecerem a importância do diagnóstico precoce, como mostra uma pesquisa da DataFolha −, o tumor de testículo é bem menos falado e conhecido.
Daí a importância da campanha para chamar atenção para a doença, reconhecer os sinais e sintomas mais frequentes, assim como identificar homens com fatores de risco para o seu desenvolvimento. Dessa forma, é possível procurar auxílio médico no momento correto. “O câncer de testículo geralmente se apresenta como um nódulo (caroço) no órgão, que pode ou não doer, alterar a consistência, textura e a cor do órgão, e que quase sempre é percebido pelos homens quando eles tocam a parte genital através do autoexame. O homem deve palpar cada um dos testículos à procura de massas anormais, áreas endurecidas ou mudanças sensíveis de tamanho. Se algo estranho for notado, é hora de procurar um urologista. É comum a parceira do paciente ser a primeira a notar tais alterações”, explica o urologista Nilo Jorge Leão, coordenador do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).
Existem fatores que são imutáveis, mas há formas de prevenir a doença, de acordo com o urologista pediátrico Leonardo Calazans. “Sabemos que alguns dos fatores de risco não são evitáveis. Por exemplo, a doença é mais comum em pessoas de etnia branca e com histórico familiar do problema. Por outro lado, há fatores em que poderíamos intervir. Estudos sugerem que usuários de maconha correm maior risco. Entre eles um publicado em 2019 pela revista científica Journal of the American Medical Association. Tal trabalho concluiu que quem consome maconha a longo prazo pode elevar em até 36% a chance de desenvolver um câncer de testículo. Da mesma forma, a infecção pelo HIV está associada a tumores no testículo, assim como trabalhadores expostos agrotóxicos. Porém, o principal fator predisponente é a chamada criptorquidia − condição em que, ao nascimento, os testículos não se encontram na bolsa escrotal mas dentro do abdômen. Existe uma tendência de que essa situação se resolva sozinha nos primeiros meses após o nascimento. Se, depois de 6 a 12 meses de idade, os testículos não descerem, é indicada a correção cirúrgica”, salienta o diretor do Núcleo de Urologia do IBCR.
Estudos sugerem que homens com criptorquidia tem 3% mais chance de desenvolver câncer de testículo do que aqueles sem esta condição. Por fim, e não menos importante, a literatura sugere um risco maior de câncer testicular para pacientes com familiares com histórico da neoplasia em questão. Filhos e parentes próximos (irmãos, primos de primeiro grau) de indivíduos portadores de câncer de testículo parecem ter um risco maior (2 a 5 vezes maior) de desenvolver a doença.
Outras doenças benignas também podem acometer o testículo, como orquite, epididimite, hidrocele, torcao testicular, dentre outras. “Na presença dos sintomas, o exame do testículo por um profissional médico e a realização de exames complementares (ultrassom, exames de sangue específicos e até tomografias) certamente vão auxiliar no diagnóstico exato para cada individuo. Sintomas mais incomuns do câncer de testículo e que sugerem um quadro mais avançado são dores abdominais, tumorações no abdome, tosse, falta de ar e o surgimento de gânglios (linfonodos) na região cervical e/ou acima da clavícula”, alerta Dr. Nilo Jorge que também é coordenador do Núcleo de Uro-oncologia das Obras Sociais Irmã Dulce.
As chances de cura passam de 95%, porém dependem fundamentalmente da precocidade do diagnóstico. O tipo de tratamento é definido conforme o estágio em que a doença se apresenta, mas na grande maioria dos casos deve se iniciar pela cirurgia da orquiectomia, que consiste na retirada de um ou os dois testículos. Porém é comum que tratamento cirúrgico traga incertezas para o homem quanto à sua virilidade, como explica o urologista e coordenador do Núcleo de Ciência e Tecnologia do IBCR, Dr. João Estrela. “O fato de perder um testículo geralmente não tem efeito sobre a capacidade de ter ereções e manter relações sexuais. Se ambos os testículos são removidos, os espermatozóides não podem ser produzidas e o homem torna-se estéril. Além disso, sem testículos, o homem não produz mais testosterona (hormônio sexual masculino), o que implicará na necessidade de reposição hormonal. Nos casos mais avançados, é preciso recorrer à radioterapia ou quimioterapia após a cirurgia, para eliminar as restantes células tumorais que podem ter ficado”, salienta o especialista.
Os homens com câncer de testículo são geralmente jovens e muitas vezes preocupados com possíveis alterações em sua aparência. “Eles podem muitas vezes se preocupar com a reação de suas parceiras, podem ser atléticos e se sentirem envergonhados pelo testículo ausente quando estiverem num vestiário. Para restaurar uma aparência mais natural, um homem pode implantar cirurgicamente uma prótese testicular no escroto. Pode ficar uma cicatriz após a operação, mas muitas vezes ela é parcialmente escondida pelos pêlos pubianos”, finaliza Dr. Alexandre Ziomkowski, urologista e coordenador do Núcleo de Ciência e Tecnologia do IBCR.
*Nilo Jorge Leão: Coordenador do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica e Nucelo de Uro-Oncologia das Obras Sociais Irmã Dulce. Com experiência de mais de 600 cirurgias robóticas realizadas
*Ascom/ Cinthya Brandão.
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